Flexibilidade ou Precarização? Perspetivas sobre a satisfação com as condições de trabalho dos Enfermeiros do Instituto Português de Oncologia de Coimbra Francisco Gentil

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Data
2013
Autores
Pereira, Lígia Maria Rocha Alves de Collus
Monteiro, Rosa (Orientadora)
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Editora
ISMT
Resumo
Assiste-se atualmente a um período de reconfiguração profundo do setor público de saúde português, em termos de orientação e organização, nomeadamente a nível hospitalar. Reconfiguração essa que resulta da adoção dos novos modelos de gestão direcionados para uma lógica de mercado assente na flexibilidade e liberalização, que se repercutem em novas formas de gestão da força do trabalho mais orientadas para a instabilidade contratual. Neste trabalho parte-se das transformações no modelo tradicional de emprego, aludindo às principais correntes que se debruçam sobre essas transformações, umas mais pendentes para as práticas flexíveis, outras mais centradas na precariedade laboral. Analisando-se igualmente o cenário de mudança do quotidiano social das organizações hospitalares públicas e as possíveis implicações que este processo de reestruturação representa para profissionais de saúde, em particular para os enfermeiros/as. Este estudo buscou conhecer as condições de trabalho destes profissionais numa unidade de saúde hospitalar, na região Centro de Portugal, especificamente procurando saber a sua satisfação com as mesmas no presente, e a forma como evoluíram as várias subdimensões da satisfação com as condições de trabalho relativamente há cinco anos. Foi adotada uma conceção de condições de trabalho que problematiza o conceito de forma sistémica, integrando não apenas as condições físicas, mas também remuneração, condições de trabalho, uso e desenvolvimento de capacidades, oportunidades de desenvolvimento e segurança, integração social na instituição, direitos, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, relevância social do trabalho, mediante o recurso a técnicas de inquérito por questionário, tendo como base o modelo de Walton. Os resultados obtidos neste estudo demonstraram a existência de diferenças significativas na satisfação dos enfermeiros com questões específicas das condições de trabalho, tendo em conta as suas características sócioprofissionais e demográficas. Já a análise global das dimensões da satisfação revela uma tendência homogénea para a insatisfação com incidência nas dimensões “remuneração” (M=1,79; DP=0,23), “oportunidades de crescimento e segurança” (M=2,25; DP=2,31) “direitos” (M=2,31; DP=0,17), e “condições de trabalho” (M=2,44; DP=2,24). A perspetiva temporal revelou uma perceção negativa sobre a evolução das condições de trabalho ao longo dos últimos 5 anos em todas as suas dimensões, salientando uma insatisfação mais notória ao nível das remunerações (M=1,71; DP=0,23) e das oportunidades de crescimento e segurança (M=1,80; DP=0,10). Em linhais gerais a insatisfação com as condições de trabalho demonstrada ao longo deste estudo remete para o conceito de flexibilidade quantitativa, cujo impacto se reflete na precariedade das condições laborais e surge aqui retratada nos resultados negativos atribuidos à totalidade das dimensões da satisfação perspetivada ao longo dos últimos 5 anos e, no presente, com as suas remunerações, oportunidades de crescimento e segurança e condições de trabalho. / The Portuguese public health sector is undergoing deep reconfiguration, in terms of its guidelines as well as of its organization, namely at as far as hospitals are concerned. This reconfiguration is the result of recently adopted management models following a flexibility / liberalization market logic which, in turn, leads to new labour management systems that generate contractual instability. This study starts by analyzing the changes in the traditional employment model. The most important studies on these changes are considered, some tending to more flexible approaches, others more focused on job precarity. The changing scenario of the daily life in public hospital organizations, with the possible impacts this restructuring process has on health professionals - particularly on nurses (male and female) - is also looked into. This survey aimed at depicting the working conditions of such professionals in a public hospital unit in Centre Portugal, specifically trying to identify their feelings about them at present, as well as at establishing the way those feelings evolved, and the way the different subdimensions of work satisfaction evolved during the past five years. The working conditions concept adopted is systemic, including not only the physical environment but also pay, work conditions, use and improvement of ski lls, opportunities for self-improvement / safety, social integration in the institution, rights, balance between work and private life, social relevance of work. The questionnaire survey based on Walton’s model was the technique chosen. The results of this survey point to the existence of significant differences on the nurses’ satisfaction levels as far as specific aspects of their working conditions are concerned, their social, professional and demographic characteristics having been taken into account. However, the global analysis of satisfaction dimensions shows a homogeneous tendency towards dissatisfaction, particularly concerning “pay” (M=1,79; DP=0,23), “opportunities for self-improvement / safety” (M=2,25; DP=2,31, “rights” (M=2,31; DP=0,17),and “work conditions” (M=2,44; DP=2,24). The time perspective shows a negative perception concerning the evolution of working conditions over the past five years in all dimensions, dissatisfaction being more evident over the items “pay” (M=1,71; DP=0,23) and “opportunities for self-improvement / safety” (M=1,80; DP=0,10). The overall dissatisfaction with working conditions which this study points to is apparently related with the quantitative flexibility concept, which has had a strong impact on the precarity of working conditions, and is here revealed by the negative results concerning all satisfaction dimensions throughout the past five-year period and, at present, concerning “pay”, “opportunities for self-improvement / safety”, and “work conditions”.
Descrição
Palavras-chave
Flexibilidade laboral - Job flexibility, Precariedade laboral - Job precarity, Satisfação no trabalho - Job satisfaction
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