Precariado e Género: a experiência das mulheres qualificadas no mercado de trabalho flexível
A carregar...
Data
2016
Autores
Ornelas, Marta Gorete Rodrigues
Matos, Fátima (Orientadora)
Título da revista
ISSN da revista
Título do Volume
Editora
ISMT
Resumo
O entrecruzamento das políticas neoliberais com a globalização económica criou as condições para o aparecimento de uma nova estrutura de classes, onde se inclui a que Guy Standing designa de “precariado”. Esta “classe” caracteriza-se por novos tipos de relações, cada vez mais instáveis, de produção, de distribuição e de relações com o Estado,com uma forte penalização das mulheres que, através da readaptação das dinâmicas de desigualdade, assumem agora, por todo o mundo, o lugar de “trabalhador ideal”. Se as empresas reduzem a gestão da sua atividade à competição imediatista, à custa de redução de custos salariais e de vínculos laborais importa, pois, questionar sobre o papel actual da RSE.
O precariado parece ser a primeira classe na História a ter como expectativa o exercício de funções laborais muito abaixo das suas qualificações, com repercussões nas formas através das quais as pessoas compõem as suas narrativas pessoais. O objetivo deste trabalho é descrever os sentimentos experienciados por mulheres com qualificações superiores que trabalham abaixo das suas competências.
A partir de uma metodologia qualitativa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com mulheres em situação profissional precária que desempenham funções abaixo das suas qualificações académicas superiores. Os dados recolhidos foram analisados de acordo com as técnicas de análise de conteúdo, codificadas com o auxílio do software Atlas/TI, versão 7.0.
As experiências de relações de produção distintas, de relações de distribuição distintas e de relações com o Estado distintas, revelam uma consciência, uma perceção, uma visão do mundo e da sua situação, também distintas. Concluímos que a falta de oportunidade de construir e manter sob controlo, narrativas profissionais assentes nas suas reais qualificações, está na base de sentimentos associados à frustração de estatuto, agravados por um forte ausência de perspetivas seguras de futuro e por uma maior vulnerabilidade às armadilhas da precariedade, nomeadamente a de ver a sua capacidade de trabalho (labour power) diminuída. / The intersection of neoliberal strategies with economic globalization shaped the conditions for the emergence of a new class structure, which includes what Guy Standing calls "the precariat". This "class" is characterized by distinctive types of relations, increasingly unstable, of production, of distribution and with the State, with a strong disadvantage for women, whom assume now around the world, through the rehabilitation of an inequality dynamics, the place of the "ideal worker". If companies reduce management to immediatist competition, at the expense of reduction of wage costs and labor relations, then it is required to inquiry,again, about the current role of CSR.
The precariat appears to be the first class in History who can expect to exercise labor functions far below their qualifications, with repercussions on the ways in which people construct their personal narratives.Our aim is to describe the feelings experienced by women who work below their level of academic qualifications.
Based on a qualitative methodology, the semi-structured interviews were conducted with women in precarious labor situation who work below their academic qualifications. The collected data were analyzed according to content analysis techniques, encoded with the help of Atlas / TI software, version 7.0.
The experiences described reveal different relations of production, of distribution and of relations with the State, showing a different consciousness, a different perception, a dissimilar vision of the world and its situation. We conclude that the lack of opportunities to build and retain under control the professional narratives, based on their actual qualifications, is a source of status frustration, aggravated by a strong lack of secure prospects for the future and vulnerability to precariousness traps, in particular those related to the decrease of labor power.
Descrição
Palavras-chave
Trabalho - Work, Precariado - Precariat, Mulheres - Women, Globalização - Globalization, Flexibilidade - Flexibility