Sintomatologia da Perturbação de Stresse Pós-Traumático em Doentes com Esclerose Múltipla: explorando o efeito preditivo conjunto da incapacidade física, da vergonha e de processos de regulação emocional

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Data
2020
Autores
Coutinho, Constança Vian Costa de Azevedo
Carvalho, Teresa (Orientadora)
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Editora
ISMT
Resumo
Introdução: A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória crónica do Sistema Nervoso Central (SNC), imunomediada, com um curso progressivo e potencialmente incapacitante. É a principal causa de incapacidade neurológica em adultos jovens, constituindo, assim, um problema de saúde pública, com impacto social e económico. A EM potência repetidas experiências stressantes e potencialmente traumáticas. Todavia, é escasso o conhecimento científico sobre os preditores da Perturbação de Stresse Pós-Traumático (PTSD) em doentes com EM, desconhecendo-se estudos com este propósito que tenham contemplado preditores relacionados com a própria EM e de natureza psicológica. Objetivos: O presente estudo pretendeu, num primeiro momento, caracterizar os doentes com EM, comparando-os a indivíduos sem EM, em relação às variáveis em estudo, nomeadamente, sintomas da PTSD, incapacidade física, vergonha (externa e interna) e, processos de regulação emocional potencialmente disfuncionais (evitamento experiencial associado ao trauma e autojulgamento), tendo apresentado como principal objetivo explorar se estas variáveis predizem os sintomas da PTSD na população-alvo. Devido à elevada comorbilidade entre PTSD e depressão, os sintomas depressivos foram contemplados no modelo preditivo hipotetizado. Métodos: Participaram neste estudo 100 doentes com o diagnóstico de EM e 131 indivíduos da população geral sem EM, ambas as amostras independentes, sem outras doenças neurológicas. Os participantes dos dois grupos preencheram um protocolo de avaliação composto por instrumentos de autorresposta: questionário sociodemográfico e clínico, o Posttraumatic Stress Disorder Checklist for DSM-5, a Subescala de Depressão da Depression, Anxiety and Stress Scales- 21, o World Health Organization Disability Assessment Schedule, o External and Internal Shame Scale, o Acceptance and Action Questionnaire- Trauma Specific e a Subescala de Autojulgamento da Self-Compassion Scale. Resultados: Os dados obtidos revelaram que doentes com EM, comparativamente com o grupo da população geral sem EM, se caracterizaram por apresentar valores mais elevados de sintomas da PTSD, de depressão, de incapacidade física, de vergonha interna e externa, de evitamento experiencial e de autojulgamento. Estes resultados, conjuntamente com a constatação de que os sintomas da PTSD apresentaram correlações positivas com os supracitados preditores inicialmente hipotetizados e de que estes predizem, através de regressões lineares simples, os sintomas da PTSD, determinaram a sua inclusão no modelo de regressão linear múltipla. Este modelo explicou uma elevada percentagem da variância dos sintomas da PTSD (61%), tendo apresentado como preditores significativos a incapacidade física, o evitamento experiencial associado ao trauma e o autojulgamento. Discussão: Os resultados sugerem a relevância clínica de prevenir e minimizar o impacto negativo da incapacidade física, do evitamento experiencial associado ao trauma e do autojulgamento na saúde mental dos doentes com EM, minimizando, assim, a sua vulnerabilidade para desenvolverem PTSD, bem como a possível exacerbação e progressão da EM. / Introduction: Multiple Sclerosis (MS) is a neurologic chronic disease, with a progressive and potentially disabling course in the Central Nervous System (CNS). It is the main cause of neurological disability in young adults, thus constituting a public health problem with social and economic impact. MS leads to repeated stressful and potentially traumatic experiences. However, there is little scientific knowledge about the predictors of Posttraumatic Stress Disorder (PTSD) in patients with MS is scarce, and studies for this purpose that have contemplated predictors related to MS itself and of a psychological nature are unknown. Objectives: The present study aimed, at first, to characterize patients with MS, compared to individuals without MS, in relation to the variables under study, namely, symptoms of PTSD, physical disability, shame (internal and external) and potentially pathogenic emotional regulation processes (experiential avoidance associated with trauma and self-judgment), having presented as main objective to explore whether these variables predict the symptoms of PTSD in the target population. Due to the high comparability between PTSD and depression, depressive symptoms were contemplated in the hypothesis predictive model. Method: This study included 100 patients diagnosed with MS and 131 individuals without MS from the Portuguese general population, both independent samples without other neurological diseases. Participants from both groups completed an assessment protocol composed by self- repot measures: a sociodemographic and clinical questionnaire, the Posttraumatic Stress Disorder Checklist for DSM-5, the Depression Subscale of the Depression, Anxiety and Stress Scales- 21, the World Health Organization Disability Assessment Schedule, the External and Internal Shame Scale, the Acceptance and Action Questionnaire- Trauma Specific, and the Self- Judgment Subscale of the Self-Compassion Scale. Results: The results showed that patients with MS, when compared to the group of the general population without the disease, were characterized by presenting higher values of PTSD symptoms, depression, physical disability, internal and external shame, experiential avoidance and self-judgment. These results, together with the finding that PTSD symptoms showed positive correlations with the aforementioned predictors initially hypothetized and that these predict, through simple linear regressions, the symptoms of PTSD, determined its inclusion in the model and multiple linear regression. This model explained a high percentage of the variance of PTSD symptoms (61%), and presented as significant predictors physical disability, experiential avoidance associated with trauma and self-judgment. Discussion: The results suggest the clinical relevance of preventing and minimizing the negative impact of physical disability, experiential avoidance associated with trauma and self- judgment in the mental health of patients with MS, thus minimizing their vulnerability to develop PTSD, as well as the possible exacerbation and progression of MS.
Descrição
Palavras-chave
Esclerose múltipla - Multiple sclerosis, Perturbação de stresse pós-traumático (PTSD) - Post-traumatic Stress Disorder (PTSD), Incapacidade física - Physical disability, Vergonha - Shame, Processos de regulação emocional - Emotional regulation processes
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