A Experiência de Perdas na Rede Social Pessoal durante a Pandemia COVID-19: impacto na saúde mental, padrões de sono e conteúdo onírico
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Data
2023
Autores
Duarte, Carla Susana Quitério
Vicente, Henrique (Orientador)
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Editora
ISMT
Resumo
Contexto: O impacto da pandemia COVID-19 na saúde mental, padrões de sono e conteúdo onírico, encontra-se extensamente documentado na literatura. Por outro lado, alguns estudos sublinham os efeitos deletérios que as medidas restritivas de contenção da pandemia tiveram nos processos de luto. Contudo, subsistem lacunas na investigação sobre o impacto da experiência de perda de pessoas significativas devido à pandemia no sono e sonhos das populações afetadas. Objetivos: O presente estudo visa realizar uma análise comparativa relativamente ao impacto da pandemia na saúde mental, solidão, nos padrões de sono e nos sonhos, entre um grupo de participantes que referiu ter perdido alguém significativo e o grupo que não identificou perdas nas suas redes sociais pessoais. Métodos: Os participantes responderam a um questionário online, que incluiu a recolha de dados sociodemográfico e de vivência da pandemia, mudanças nos padrões de sono e sonhos durante a pandemia COVID-19. O protocolo de recolha de dados incluiu igualmente os instrumentos psicométricos Mental Health Inventory-5 (MHI-5) e Escala de solidão – versão reduzida. A amostra global integrou 1020 participantes, sendo dividida em duas subamostras: participantes que não identificaram perdas devido à COVID-19 (812 participantes) e participantes que referiram a perda de alguém significativo (169 participantes). Resultados: A subamostra de participantes enlutados apresenta idade média superior e maior número de reformados, tendo reportado maior impacto na sua saúde física. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as duas subamostras ao nível da saúde mental e da solidão. Finalmente, os participantes enlutados reportam menor qualidade de sono, maior número de pesadelos recordados, e maior probabilidade de sonhar com a COVID-19. A associação dos sonhos relacionados com a COVID-19 à emoção “raiva” é significativamente superior entre os participantes que perderam alguém significativo. Discussão e Conclusões: Os resultados indicam que embora a experiência de luto derivada da pandemia COVID-19 não apresente inequivocamente contornos patológicos ou deletérios, as alterações nos padrões de sono e no conteúdo dos sonhos registadas sugerem uma elevada carga emocional a ser processada. Estes dados são consonantes com a hipótese da continuidade e com a teoria da regulação emocional dos sonhos. Sugerem-se estudos longitudinais para aferir com maior precisão o impacto das experiências de perda durante a pandemia, bem como estudos com crianças e adolescentes, não incluídos no presente trabalho. | Background: The impact of the COVID-19 pandemic on mental health, sleep patterns and dream content is extensively documented in the literature. On the other hand, some studies underline the deleterious effects that the restrictive measures to contain the pandemic had on the mourning processes. However, research gaps remain on the impact of the experience of losing significant people, due to the pandemic, on the sleep and dreams of affected populations. Objectives: The present study aims to carry out a comparative analysis regarding the impact of the pandemic on mental health, loneliness, sleep patterns and dreams, between a group of participants who reported having lost someone significant and the group that did not identify losses in their personal social networks. Methods: The participants answered an online questionnaire, which included the collection of sociodemographic and pandemic experience data, changes in sleep patterns and dreams during the COVID-19 pandemic. The data collection protocol also included psychometric instruments (Mental Health Inventory-5 (MHI-5) and the Loneliness Scale – short version). The global sample included 1020 participants, divided into two subsamples: participants who did not identify losses due to COVID-19 (812 participants) and participants who reported the loss of a significant person (169 participants). Results: The subsample of bereaved participants has a higher average age and a greater number of retirees, having reported a greater impact on their physical health. No statistically significant differences were found between the two subsamples in terms of mental health and loneliness. Finally, bereaved participants report lower sleep quality, more recalled nightmares, and more probability to dream about COVID-19. The association of COVID-19-related dreams with the emotion “anger” is significantly higher among participants who have lost a significant person. Discussion and Conclusions: The results demonstrate that although the experience of grief due to COVID-19 pandemic does not unequivocally present pathological or deleterious contours, the changes in sleep patterns and in the content of dreams recorded suggest a high emotional load to be processed. These data are consistent with the continuity hypothesis and with the theory of emotional regulation of dreams. Longitudinal studies are suggested to more accurately assess the impact of loss experiences during the pandemic, as well as studies with children and teenagers, not included in the present work.