O Efeito Mediador da Mentalização na Relação entre Exposição Mediática à Guerra, Sintomatologia Psicopatológica e Impacto Traumático
A carregar...
Data
2023
Autores
Prates, Inês Margarida Abade
Vicente, Henrique (Orientador)
Título da revista
ISSN da revista
Título do Volume
Editora
ISMT
Resumo
Introdução: A mentalização, enquanto capacidade de compreender os estados mentais do próprio e dos outros subjacentes ao comportamento manifesto, tem vindo a ser reconhecida como importante variável mediadora entre eventos adversos do passado e presente e as respostas psicológicas ou comportamentais do ser humano. Por outro lado, a revisão da literatura indica igualmente que a exposição mediática a imagens violentas pode conduzir a sintomatologia ansiosa e depressiva, e adquirir contornos traumáticos. Objetivos: Este estudo pretende analisar o efeito mediador da mentalização ou funcionamento reflexivo na relação entre exposição mediática à guerra da Ucrânia, sintomatologia psicopatológica e impacto traumático, numa amostra da população residente em Portugal. Método: A amostra do presente estudo é constituída por 703 adultos residentes em Portugal. O protocolo de recolha de dados incluiu um questionário sociodemográfico, um questionário de exposição mediática à guerra na Ucrânia, o Reflective Functioning Questionnaire – 8 (RFQ-8), as Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS-21), e a Impact of Event Scale – Revised (IES-R). Resultados: Os resultados revelaram uma associação estatisticamente significativa entre exposição mediática e sintomas de depressão, ansiedade e stress, bem como com o impacto traumático experienciado. Os modelos mediacionais revelaram que o funcionamento reflexivo tem um papel mediador na relação entre as variáveis acima referenciadas. A incerteza de estados mentais parece configurar-se como um fator de risco, ao passo que a certeza de estados mentais adquire contornos de variável mediadora protetora. Conclusão: Os resultados deste estudo, ao suportarem o papel mediador do funcionamento reflexivo, indiciam que, do ponto de vista clínico, é expectável que intervenções focadas na mentalização contribuam para uma diminuição da sintomatologia e do impacto traumático. Por outro lado, estratégias preventivas que aumentem a capacidade de mentalização, podem contribuir para aumentar a resiliência das populações expostas. | Introduction: Mentalization, the ability to understand the mental states of oneself and others' underlying behavior, has been recognized as an important mediating variable between past and present adverse events and human psychological or behavioral responses. On the other hand, the literature review also indicates that media exposure to violent images can lead to symptoms of anxiety, depression, and trauma. Objectives: This study aims to analyze the mediating effect of mentalization or reflective functioning on the relationship between media exposure to the war in Ukraine, psychopathological symptoms, and traumatic impact in a sample of the population living in Portugal. Method: The sample consisted of 703 adults living in Portugal. The data collection protocol included a sociodemographic questionnaire, a questionnaire on media exposure to the war in Ukraine, the Reflective Functioning Questionnaire - 8 (RFQ-8), the Anxiety, Depression, and Stress Scales (EADS-21), and the Impact of Event Scale-Revised (IES R). Results: The results revealed a statistically significant association between media exposure and symptoms of depression, anxiety, and stress, as well as the traumatic impact experienced. The mediational models revealed that reflective functioning mediates the relationship between the variables above. Uncertainty of mental states seems to be a risk factor, while certainty of mental states becomes a protective mediating variable. Conclusion: By supporting the mediating role of reflective functioning, our results indicate that, from a clinical point of view, interventions focused on mentalization can contribute to a reduction in symptomatology and traumatic impact. On the other hand, preventive strategies that increase mentalization capacity can improve the resilience of exposed populations.