Impacto da Exposição Mediática à Guerra na Ucrânia no Sono e Sonhos de uma Amostra da População Residente em Portugal
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Data
2023
Autores
Carvalho, Ana Filipa Jesus de
Vicente, Henrique (Orientador)
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Editora
ISMT
Resumo
Introdução: A literatura aponta para o impacto deletério que a exposição mediática a eventos de violência coletiva pode deter, particularmente ao nível da saúde mental. Por outro lado, está igualmente documentada a estreita relação entre saúde mental, sono e sonhos. Objetivo: O presente estudo procura analisar o impacto que a exposição mediática à guerra na Ucrânia teve no sono e sonhos de uma amostra da população residente em Portugal. Métodos: O protocolo de recolha de dados online foi completado por 703 participantes, recolhidos através de um processo de amostragem não-probabilístico, por conveniência e bola de neve. Para atingir os objetivos definidos, foram utilizados os dados recolhidos através do questionário sociodemográfico, questionário de exposição mediática à guerra na Ucrânia (baseado em Silver et al., 2013), e questionário de avaliação do sono e sonhos dos respondentes (baseado em Simões et al.,2023). Resultados: A televisão foi o meio mais utilizado pela amostra para obter informações sobre a guerra, sendo seguido pela Internet. Uma percentagem significativa (44.7%) assinalou um tempo de exposição entre 1 a 3 horas diárias. Tanto o tempo de exposição, como o índice de exposição mediática, apresentaram relações estatisticamente significativas com todos os padrões de sono avaliados e com alterações no conteúdo onírico (surgimento de sonhos relacionados com a guerra). Maior tempo de exposição e uma tonalidade mais violenta nas imagens visualizadas estavam associadas a uma deterioração da qualidade de sono, nos vários parâmetros avaliados. Discussão e Conclusões: Este estudo, ao suportar uma estreita relação entre sono, sonhos e exposição mediática, sublinha a importância de estratégias preventivas na consciencialização das populações para os efeitos adversos que uma exposição excessiva pode deter. Os resultados indiciam ainda que a análise dos sonhos pode constituir uma ferramenta relevante em contexto psicoterapêutico para analisar as angústias de pacientes em tratamento. Finalmente, embora esteja extensamente documentada a importância de avaliar o trauma em populações diretamente afetas por eventos adversos, importa também aferir o impacto indireto desses eventos em populações distantes do epicentro crítico. | Background: The literature points to the deleterious impact that media exposure to events of collective violence can have, particularly in terms of mental health. On the other hand, the close relationship between mental health, sleep and dreams is also documented. Objective: The present study aims to analyze the impact that media exposure to the war in Ukraine had on sleep patterns and dream content in a sample of the population residing in Portugal. Method: The online data collection protocol was completed by 703 participants, collected through a non-probability, convenience and snowball sampling process. To achieve the defined objectives, data was collected through a sociodemographic questionnaire, the media exposure questionnaire to the war in Ukraine (based on Silver et al., 2013), and the respondents' sleep and dream assessment questionnaire (based on Simões et al., 2023). Results: Television was the medium most used by the sample to obtain information about the war, followed by the Internet. A significant percentage (44.7%) reported an exposure time between 1 and 3 hours per day. Both the exposure time and the media exposure index showed statistically significant relationships with all sleep patterns evaluated and with changes in dream content (emergence of war-related dreams). Longer exposure time and a more violent tone in the images viewed were associated with a deterioration in sleep quality, in the various parameters evaluated. Discussion and Conclusions: By supporting a close relationship between sleep, dreams and media exposure, this study highlights the importance of preventive strategies in raising awareness among populations about the adverse effects associated with excessive exposure. The results also indicate that dream analysis can constitute a relevant tool in psychotherapeutic processes, namely to analyze the anxieties of patients undergoing treatment. Finally, although the importance of evaluating trauma in populations directly affected by adverse events is extensively documented, it is also important to assess the indirect impact of these events in populations distant from the crisis epicenter.